quinta-feira, 30 de junho de 2011


Com esperanças o dia surgiu. Helena acordava com a sensação da noite ainda, uma noite trilhada por caminhos tortuosos, pesadelos e contatos físicos com uma demoníaca criatura. Mas acordou, ora cansada, ora aliviada, Helena dirigiu-se ao velho espelho para dar uma arrumada nos cabelos, afinal sua cara de louca ficava pior ainda com os fios completamente esvoaçados. Seus cabelos longos e negros, seus fios tenuíssimos, quase difíceis de tocar, logo se alinhavam.. cabelo bom, como dizia a mãe, morrendo de inveja. Helena não entendia, ela amava os lindos cachos dos cabelos meio crespos da mãe. estranho olhar para o espelho, estranho porque ao se olhar só via essa mãe, tão distante nessa fase da vida, distante no tempo e no espaço, distante da alma e do coração... dela somente essa idéia de que quando a penteava ficava cantando baixinho: "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos..." - Helena ouvia essa canção e os tais caracóis inavadiam sua mente, bichos estranhos, imensos caramujos... e nunca mais conseguiu dormir que não fosse em enormes tanques, em suas regiões de sonho, imensos tanques que viravam pântanos... calçadas úmidas, cheias do lodo verde, do musgo que irritava a pele.. e eles, os caracóis, os caramujos, subindo pelas pernas, embrenhando-se em seus cabelos... a mãe com uma escova enorme varria-os em sua direção e cantava alto, alto até o insuportável...
Uma vida inteira assim.

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